E (tudo) o Vento Levou é uma composição e filme
inteiramente elaborados durante o período de confinamento
de 2020 devido à peste chinesa do Covid-19.
Música e filme foram elaborados independentemente.
A composição musical é estabelecida em quatro
vozes. Não há uma voz prevalecente. O número
quatro indica aqui a dinâmica da vida, como ensina a tradição
da geometria sagrada. A primeira voz é um contínuo
para vinte flautas transversais. A nota fundamental é
Fá1. Mas, é introduzido um Lá baixo. Isso
porquê ambas são notas musicais impossíveis.
A sutil flutuação de afinação produzida
pela natural flexibilidade dos lábios é usada para
gerar um grande número de harmônicos.
A segunda voz é um cluster de frequências complexas,
mais altas, operadas eletronicamente. Também formando
um contínuo. A terceira voz é estabelecida por
uma longa célula rítmica em 2/4 tipicamente utilizada
em danças, como discotecas ou bares noturnos. Entretanto
essa célula é sutilmente quebrada produzindo uma
ligeira aperidiocidade.
A quarta voz é a fusão dos sons do filme
Assim, contando basicamente, as vinte flautas e as três
vozes somam vinte e três, cuja soma é cinco, pentágono.
Cinco é a soma de dois, a existência concreta, e
três, a razão.
Por sua vez, o filme exigiu uma profunda pesquisa sobre vinte
obras cinematográficas, tal como a primeira voz musical,
com as flautas transversais.
Desses vinte filmes foi feita uma seleção de cenas
de amor, festa, música, faces, eventos coletivos, bares
e restaurantes. Sete pontos de referência.
Uma primeira montagem foi realizada com cinco pistas independentes.
Foi adotado o princípio conhecido como "emergência",
da Gestalt. De acordo com esse princípio, os nossos cérebros
podem criar imagens a partir de pontos e manchas aparentemente
desconexos.
Kurt Koffka dizia: "...a nossa realidade não é
a mera colocação de fatos elementares, mas consiste
em unidades nas quais nenhuma parte existe por si mesma, onde
cada parte aponta para além de si própria e implica
um todo alargado".
A já clássica imagem do cão dálmata
ilustra bem como tal ocorre.
Assim, cada uma das cinco pistas, ou lâminas visuais, foi
tratada eletronicamente de forma a tornar tudo campos brancos
com manchas negras. A pessoa vê imagens que são
formadas no seu cérebro, mas para além daquelas
mais evidentes, outras são produzidas, dependendo do cérebro
de cada. Por isso, cada pessoa vê um todo diferente.
Essas cinco lâminas foram superpostas, uma sendo o negativo
da outra, amplificando o processo da "emergência"
e da formação de imagens paralelas, pertencentes
ao imaginário de cada um.
E (tudo) o Vento Levou é um filme, ou um desenho de animação,
como se preferir, sobre o momento histórico que vivemos.
Todas as imagens do filme são sobre elementos que caracterizaram
as nossas sociedades nos últimos cem anos. De uma ou de
outra forma, elas retratam a vida e o "estar" das pessoas...
apelo menos até agora.
O quê mudará? Qual é o nosso papel enquanto
pessoas, indivíduos, face à realidade que surge?
A antiga realidade desapareceu subitamente, como uma guerra.
Trata-se de um filme-concerto sobre cada um de nós, nossas
memórias, nossas ideias. Um filme-reflexão.
Todos somos responsáveis pelo futuro, pela liberdade.
Sete pontos de referência.
O antigo misticismo atribuía poderes mágicos ao
número sete, considerando-o uma referência direta
a sete princípios humanos: o Eu, a alma, a mente, o amor,
o princípio vital, o espírito e o corpo físico.
Na cabala, sete dos dez sefirot na Árvore da Vida designam
o nosso universo de emoções.
No Apocalipse bíblico, sete são os selos que protegem
o livro que João descreve da sua visão apocalíptica.
A abertura desses selos marca o início do Apocalipse.
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