D       E       O
emanuel dimas de melo pimenta

parte do Projeto L de Liberdade




dedicado às
pessoas de Bolognano




............
gravado e filmado na
Casa della Musica
Bolognano, Itália, Novembro 2021

Sandro Botticelli - Primavera late 1470s or early 1480s, Tempera on panel, 202 cm × 314 cm (80 in × 124 in) - Uffizi Gallery, Florence

 

DEO (YouTube)

 

Emanuel Pimenta

Casa della Musica

L de Liberdade

Bolognano

Museu Joseph Beuys

Lucrezia De Domizio
           















           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A obediência cega à autoridade é o maior inimigo da verdade.
Albert Einstein

Não consigo perceber porque é que as pessoas têm medo de novas ideias. Eu tenho medo das antigas.
John Cage

Tornar as pessoas livres é o objetivo da arte, portanto a arte para mim é a ciência da liberdade.
Joseph Beuys

DEO é outro nome para a deusa grega Demeter, que também está relacionada a Ceres, deusa da liberdade, e ao Liber Pater, deus do vinho e da liberdade.
A palavra Demeter terá suas antigas origens etimológicas no Indo Europeu *met, que indicava a ideia de mãe, de elemento gerador, de energia criativa e que estava relacionado à matéria e à mente, de onde surgiram essas palavras.
Por outro lado, a raiz Indo Europeia *D indicava a ideia de luz e que gerou a nossa palavra "deus".
Para o filólogo e estudioso do mundo clássico Martin Litchfield West, que viveu entre 1937 e 2015, Demeter seria resultado da fusão de da- (que significa "terra") e -matura (que significa "mãe").
Na Índia, a deusa-Terra é Bhumi, também conhecida como Prithvi ou Prithvi Mata, significando "a Vastidão".
Assim, poderíamos compreender DEO como a deusa-Terra... deusa da matéria e da mente.
Raramente temos a consciência de que somos a Terra! Cerca de 60% dos nossos corpos é formado por seres com ADN não humano. Somos colônias de muitos seres diferentes. As nossas peles estão cobertas por eles. Quando sentimos uma emoção, por exemplo, são bactérias nos nossos intestinos que produzem uma grande parte dos nossos neurotransmissores responsáveis por aquilo que sentimos.
Sair da Terra significa expandi-la.
A nossa forma de pensar está diretamente relacionada à Terra, à Natureza.
Isso me faz lembrar dois momentos no pensamento de Krishnamurti: "É total e irrevogavelmente possível esvaziar tudo o que fere e, portanto, amar, ter compaixão. Ter compaixão significa ter paixão por todas as coisas, não apenas entre duas pessoas, mas por todos os seres humanos, por todas as coisas da terra, pelos animais, pelas árvores - tudo o que a terra contém. Quando tivermos tal compaixão não despojaremos a terra como estamos fazendo agora e não mais teremos guerras. (...) Toda a vida é um movimento de relacionamentos. Não há qualquer ser vivo na Terra que não esteja relacionado com algo ou com outro ser vivo".
Portanto, o indivíduo é e não é, a separação existe e não existe - revelando a lógica do universo da física quântica.
Assim, quando admiramos a Natureza, estamos admirando a nós próprios, pois aquilo que vemos é o que somos.
Mas, nada disso acontece quando não há pensamento. E quando tal acontece, conflitos de toda a espécie emergem, guerra, raças contra raças, duelos entre irmãos, amigos, pais, filhos e assim por diante - tal como acontece na floresta, quando domina o jogo de soma zero. Apenas quando há pensamento, civis, há liberdade - porque o pensamento implica o conhecimento do outro.
Essa é a natureza primeira de Deo.
E esse é o signo principal da liberdade.
Por isso Demeter está intimamente relacionada à terra, à primavera, ao amor, ao vinho, à paz, à liberdade, à sabedoria e ao conhecimento.
Quando olhamos em torno de nós, qual é a natureza de ordem que se sobressai? A resposta está numa ordem de natureza teleológica - são os automóveis, as ruas, as casas, os objetos feitos pelo ser humano, a música popular, os objetos manufaturados - tudo obedecendo a uma estratégia teleológica, de natureza fortemente hierárquica. Pense em algo tão simples como uma mesa. Trata-se basicamente de um tampo e três ou quatro pés. Algo que foi "pensado" teleologicamente para a sua função. Vá ao cinema: o filme que você assistiu foi elaborado com um fim, articulando tudo no sentido de comunicar algo em termos de uma ordem hierárquica desenhada pelo humano. O mesmo ocorre com praticamente tudo o que nos cerca. Tudo é intencionalmente elaborado para se atingir um fim.
Sempre que isso acontece, há uma dramática diminuição daquilo a que chamamos de inteligência, que implica diversidade e descoberta. Sendo tudo intencionalmente hierárquico conduzindo a fins esperados, funções previstas, tudo se torna entretenimento.
O entretenimento é a ausência do pensamento, como acontecia no universo nazista ou em qualquer outro tipo de totalitarismo. Ele elimina a visão crítica, a capacidade de reagir a determinações autoritárias - o entretenimento produz a massa obediente e cega dos carneiros.
A visão crítica implica o conhecimento e a liberdade. Isso me faz lembrar um pensamento de Albert Einstein quando, em 1933, dizia: "Não consigo compreender a reação passiva de todo o mundo civilizado a este barbarismo moderno. O mundo não vê que o objetivo de Hitler é a guerra?!" - convém sublinhar: Einstein disso isso em 1933! Não é, de algum modo, exatamente o que vivemos hoje, quando os elementos da liberdade são diariamente suprimidos em nome de um suposto bem de todos? Qual poderia ser o resultado com o fim da liberdade senão o totalitarismo e a guerra? Como podemos compreender a reação passiva de todo o mundo civilizado?
Portanto, há mais de quarenta anos passei a questionar esse princípio lógico que faz com que quase tudo o que é material e que nos constitui como humanos, enquanto inconsciente, possua sempre uma natureza lógica fortemente hierárquica, semelhante e teleológica - conduzindo à anulação da diferença e, dessa forma, da consciência e do pensamento. Passei a elaborar estruturas lógicas paratáticas, por coordenação, que desencadeiam um processo de percepção e cognição que seguem o princípio da Teoria do Caos, e que determinam, portanto, um diferente universo lógico, desencadeando um processo de autoconhecimento, de questionamento, de crítica.

Apenas a diferença produz a consciência - e por essa via, o conflito de duas ordens lógicas diferentes, desencadeia um estado de consciência.
Este é o sentido último de Deo: pensamento.
Quando alguém se depara com uma diferente ordem lógica, tem a contraditória sensação de "já conhecer" e "estranhar".
DEO é uma composição para solo de flauta transversal, composto em 2021 como parte do projeto maior intitulado L de Liberdade, que é constituído de filmes, concertos, textos, imagens e assim por diante.
Todas as notas musicais foram estabelecidas de acordo com as operações de acaso num sistema estocástico. Parti de uma peça de Erik Satie e o processo resultou numa transformação da antiga ordem dos sons.
A nova ordem conduz a um novo estado.
A estreia mundial de DEO teve lugar na Casa della Musica, em Bolognano, nas montanhas de Abruzzo, Itália, em Outubro de 2021.

A gravação de DEO na Casa della Musica, criada com Lucrezia De Domizio há mais de vinte anos, no ano 2000, foi uma versão para duas flautas transversais, ambas tocadas por mim.
A partitura de DEO permite que o executante escolha livremente a ordem das páginas, e no caso de serem duas ou mais flautas a tocar junto, uma não deve conhecer a ordem da outra.

Emanuel Dimas de Melo Pimenta
Locarno 2022
................................................................................................................................................................

Casa della Musica
Emanuel Dimas de Melo Pimenta
2019


Bolognano
foto de Emanuel Pimenta
1999


Praça Joseph Beuys e
Palácio Durini
foto de Emanuel Pimenta 2019


Bolognano
foto de Emanuel Pimenta
2019


Lucrezia De Domizio,
Baronesa Durini celebrando
no Palácio Durini, 2019


Casa de Joseph Beuys em
Bolognano
foto de Emanuel Pimenta 1999


Giorgo d'Orazio, Emanuel
Pimenta e Lucrezia De Domizio
no Museu Joseph Beuys
2019