L de Liberdade
emanuel dimas de melo pimenta

2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Em 1973, Orson Welles lançou o filme F for Fake - que foi traduzido para o francês como Vérités et Mensonges, Verdades e Mentiras. O filme gira em torno da vida de um célebre falsificador profissional de arte, o pintor húngaro Elmyr de Hory. A partir desse célebre falsificador, Welles questiona onde está a verdade, o quê é afinal a autenticidade enquanto valor da obra de arte.
O quê é a verdade? O quê é a autenticidade na arte? Existe, de fato, uma obra de arte "verdadeira"?
O filme provoca uma sensação de profundo questionamento em relação àquilo que acreditamos como "real", particularmente no mundo da arte.
Quando eu era criança, a figura de Orson Welles era muito presente em minha casa. Naturalmente, Orson Welles nunca esteve lá, mas o meu pai fazia cinema amador e tinha uma grande admiração por ele.
Orson Welles e Howard Hughes eram dois dos personagens, com Charlie Chaplin, cujas imagens, textos e filmes estavam muito presentes em casa, entre outros.
Lembro-me de quando Orson Welles lançou F for Fake em 1973. Eu tinha dezesseis anos de idade. Foi o penúltimo filme concluído por ele.
Um ano depois acontecia a Revolução dos Cravos em Portugal, e eu estava em Lisboa nessa época. Vivi aquela revolução como se fosse um arqueólogo do tempo presente. Caminhava pelas ruas, observava as pessoas. O clima geral era de paz e amor, com uma palavra-chave eletrizante: liberdade!
Havia uma verdadeira euforia em torno da ideia da liberdade.
Algo que seria muito comentado nos anos seguintes mas que surpreendentemente cairia no esquecimento, é que naquele momento da Revolução Portuguesa pela liberdade muitos países viviam pesadas ditaduras, e que após a Revolução dos Cravos, um a um, muitos deles foram se tornando democracias - como se, de alguma forma, tivessem sido "contaminados" pelo amor à liberdade que era celebrado em Portugal.
Dessa forma, depois daquela revolução, vários países se tornariam democracias, como a Etiópia naquele mesmo ano de 1974, a Espanha no ano seguinte, o Perú em 1980, a Argentina em 1983, o Brasil em 1985, o Chile em 1988 ou a África do Sul com o genial Nelson Mandela em 1988.
É curioso questionarmos por quê essa ideia caiu no esquecimento.
Cerca de cinquenta anos mais tarde, no início do século XXI, o planeta pareceu mudar de rumo. Houve quem passasse a conspirar pela implantação de um governo mundial, totalitário e tecnológico - um momento em que a liberdade passou a ser considerada por vários filósofos e ideólogos do poder como algo sem valor, sem importância histórica, como algo não essencial!
O poder absoluto, não importa a sua natureza, é radicalemente oposto à liberdade - e aspira sempre à sua própria perpetuação.
Quem me conhece sabe com clareza que toda a minha vida foi dedicada à liberdade, contra qualquer tipo de ditadura.
As partituras musicais virtuais, o estabelecimento de "armadilhas lógicas", a arte como crítica da cultura no seu modo de operar, tudo no meu trabalho sempre esteve dedicado à descoberta, à iluminação, ao auto-conhecimento, fundamentos essenciais da liberdade.
Apenas aprendemos e amamos com a diversidade. A sua negação é o narciso, o fechamento em si mesmo.
Mas, ao longo dos anos, criamos um monstro tecnológico na forma de um voraz Leviatã cujos tentáculos burocráticos ameaçam seriamente a liberdade de todos. Trata-se de um organismo monstruoso que opera declaradamente (ou quase) em benefício de regimes ditatoriais e totalitários - sejam de natureza ideológica ou religiosa - em nome de um suposto bem de todos!
A única forma de vencer esse monstro é cada pessoa participar na mudança, cultivando-se; não votando em políticos que de alguma forma, direta ou indireta, beneficiem esse monstro, ou que não lutem contra ele; não comprando produtos que tenham sido produzidos por ditaduras ou regimes totalitários; manifestando pacificamente as nossas ideias, defendendo a liberdade de expressão, de pensamento e as liberdades individuais; evitando usar tecnologia que signifique a vigilância das pessoas, potenciais restrições à liberdade e assim por diante.
Muito curiosamente, no início do século XXI pessoas de alguns países passaram a relacionar a liberdade às ditaduras! Trata-se de um total absurdo, de uma mais que evidente contradição!
Para além de ser pública e abertamente condenada por regimes ditatoriais, a palavra "liberdade" pareceu ter sido transformada em elemento de política partidária em alguns países, paradoxalmente como se se tratasse de algo contra as pessoas!
Esse fenômeno é mundial, não está presente apenas num único país.
Assim, em momento algum falo de qualquer país em particular - o que nos revela uma realidade ainda mais impressionante.
Tem-se a clara noção de que uma boa parte das pessoas não sabe, realmente, o quê é a liberdade.
Liberdade não é destruir coisas, roubar ou matar - liberdade é termos a capacidade de determinar os limites das nossas ações, cada um de nós, de forma que surja e se consolide como princípio geral o antigo ditado: a minha liberdade vai até onde começa a do outro.
Se algum dia, alguém lhe disser que a liberdade não é importante, atenção, seguramente estará falando da sua liberdade e não da dele!
Em 2021 dei início a um grande projeto, de caráter multidimensional - envolvendo diferentes dimensões de várias disciplinas - que chamei de L de Liberdade, lembrando o penúltimo filme concluído por Orson Welles, como um desafio ao pensamento, à reflexão sobre a liberdade.
Esse projeto é composto por concertos, filmes, conferências, livros, fotografias e assim por diante. É um projeto muito grande, que absorveu vários meses de trabalho.
Como parte desse grande trabalho - e primeira peça colocada em público - em fevereiro de 2022 fiz a première mundial de um concerto musical e um filme experimental, ambos com o mesmo título: L. Música e filme foram elaborados de forma totalmente independente. A música foi composta exclusivamente com os dados do meu mapa genético, o meu próprio ADN, e os sons são todos artificiais. O filme foi elaborado utilizando imagens de filmes experimentais realizados cem anos antes, no início do século XX.
Em maio de 2022 fiz a première mundial de 1000 Lights... Universe! no Museu Joseph Beuys, em Itália, música e filme dedicados a Lucrezia De Domizio, Baronesa Durini - também como parte do grande projeto L de Liberdade.
Em junho de 2022, lancei o livro Liberdade - à venda na Amazon em todo o mundo, mas também gratuitamente disponível na plataforma da academia.edu
O livro Liberdade, na versão em papel ou em pdf, contou com três edições independentes: em português, em inglês e em italiano.
Esse livro descreve uma longa caminhada em torno da questão da liberdade em termos mais filosóficos. Ele ilumina, de alguma forma, muitas contradições e incongruências que vivemos no dia a dia graças ao não entendimento ou à manipulação do sentido da ideia de liberdade.
Para além desses projetos, há um concerto para solo de flauta transversal gravado no final de 2021 em Bolognano, Itália, chamado Deo - Deus como sendo tudo. O longo solo de flauta foi escrito utilizando operações matemáticas estocásticas. Trata-se de um questionamento acerca dos níveis de liberdades do próprio compositor. Creio que esse questionamento é, de alguma forma, percebido por quem ouve Deo.
Segue-se um livro sobre o fim da ideia de guerra - inspirado, num certo sentido, na minha ópera Metanoia, realizada no fabuloso mosteiro da Batalha, em 2018, como parte das celebrações oficiais europeias pelo fim da Primeira Guerra Mundial em 1918.
Metanoia foi realizada no mosteiro da Batalha, construído no século XIV, num estilo gótico flamejante, com o objetivo de celebrar o fim da guerra de Aljubarrota com a Espanha e como um pensamento voltado ao fim das guerras com aquele país. De fato, nunca mais aconteceu qualquer guerra entre Espanha e Portugal.
O livro é um desafio: qual é o sentido da guerra no mundo do século XXI? Seremos capazes de colocar um fim nisso? Ninguém faz qualquer coisa e cruzamos os braços?
A guerra, qualquer guerra, é o fim do humano!
Então, temos a edição do livro Caminhando, com um ensaio fotográfico meu realizado ao longo de cinquenta anos em todo o mundo. São trezentas e sessenta e cinco fotografias de caminhos percorridos em cerca de cem cidades e lugares do planeta, na Europa, nas Américas, no Médio Oriente, na África, e no Extremo Oriente.
O livro Liberdade é uma grande caminhada, como uma reflexão sobre diferentes abordagens da realidade feitas pelo Ocidente e pelo Oriente. O ensaio fotográfico Caminhando - sempre pensando em Thoreau - é uma espécie de reflexão não verbal sobre essa questão.
Em maio de 2022 dei uma master class na Universidade de Faro sobre a obsolescência dos chamados digital media: A Metamorfose Humana. Aquela comunicação também faz parte do projeto L de Liberdade.
Seguramente, também poderíamos considerar como parte desse grande projeto multidimensional o Observatório para o Futuro da Humanidade, em parceria com a cidade de Cascais, Portugal, fundado no âmbito do Projeto HERA que foi criado e é dirigido pela Marianela Mirpuri, querida amiga, e o texto-manifesto O Pássaro da Liberdade publicado em livro em 2019 no âmbito das atividades do Observatório.
Há ainda um poema enigma, SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS - palíndrome chave do chamado Quadrado Sator cuja mais antiga representação foi descoberta nas ruínas de Pompéia. Aqui em três línguas, português, inglês e italiano. Escrevi esse longo poema com um recurso que produz uma transformação na dinâmica neuronal do leitor, alterando e ampliando o universo de significações. Criei essa técnica há cerca de quarenta anos e tenho publicado muitas vezes textos literários com ela. O primeiro livro publicado com essa técnica foi TAPAS - A Impermanência das Coisas e das Ideias, Arquitetura e Inconsciente, em 1984. Muitos se seguiram a ele.
Esse longo poema - SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS - foi elaborado para uma publicação na Alemanha, dirigida por Christoph Weigert. Mas, como por vezes acontece nas nossas vidas, a publicação foi suspensa, não por Christoph, mas pela estrutura que suportava o projeto. Imediatamente depois, recebi uma mensagem da minha querida amiga Maria do Rosário Loures, poetisa Portuguesa que vive em Nuremberga, Alemanha, desde 1987 e que estava a coordenar uma edição especial de poesia para o Projeto HERA - uma antologia planetária. Aí foi publicado pela primeira vez SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS.
L de Liberdade é um grande projeto multidimensional.
Tudo isso me trás à mente um personagem que foi uma importante referência para o meu pai, Charlie Chaplin, nas suas últimas palavras no filme O Grande Ditador, quando dizia: "Não quero governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar todos - se possível - judeus, gentios - negros - brancos. Todos nós queremos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver pela felicidade de cada um - não pela miséria do outro. (...) O ódio das pessoas vai passar, e os ditadores vão morrer, e o poder que eles tomaram do povo, vai voltar ao povo. E enquanto as pessoas morrerem, a liberdade nunca perecerá".

Emanuel Dimas de Melo Pimenta, 2022

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veja os links abaixo

 

 

emanuel pimenta

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L (concerto e filme)

L partitura musical

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1000 Lights... Universe! website

1000 Lights... Universe! concerto e filme

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Liberdade (livro em papel)

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Liberdade (livro) pdf

Liberty (book) pdf

Libertà (libro) pdf

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Deo - concerto

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Metanoia (livro)

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Caminhando (livro - fotografia)

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Metamorfose Humana (conferência) pdf

Human Metamorphosis (lecture) pdf

La Metamorfosi Umana (conferenza) pdf

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SATOR AREPO TENET OPERA ROTAS

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Pássaro da Liberdade

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