|
|
Conheci o Jorge Peixinho
em 1977. Eu tinha 19 anos de idade, ele 37. Ficamos imediatamente
grandes amigos para toda a vida. Ele foi, sem qualquer sombra
de dúvida, um dos mais importantes compositores em todo
o mundo no século XX e, em particular, depois da Segunda
Guerra Mundial.
O Jorge morreu em 1995, aos 55 anos de idade, e foi praticamente
esquecido pelo mundo!
Em 2019, Isabel Alves - querida amiga a quem muito admiro - sugeriu
que eu fizesse algo pelos cem anos do Ernesto de Sousa, em 2021.
Conheci o Ernesto muito rapidamente, em 1987. Ele morreria no
ano seguinte. O nosso encontro foi relâmpago. Cinco anos
depois eu viria a colaborar com a Isabel Alves, muito especialmente
na Bolsa Ernesto de Sousa.
Pensamos inicialmente num concerto e eu já tinha alinhavado
algo sobre isso quando eclodiu a pandemia que paralisou o planeta.
Já em 2021, Isabel sugeriu que eu escrevesse algo sobre
o Ernesto. Mas, eu o conheci muito rapidamente!
O Ernesto de Sousa e o Jorge Peixinho foram muito amigos, colaborando
em muitos projetos comuns.
Ambos são dois importantes personagens da cultura Portuguesa
e, no caso do Jorge, também da Brasileira.
Assim, escrevi o pequeno livro Os Dois Amigos - Jorge Peixinho
e Ernesto de Sousa, dedicado à Isabel, no centenário
do Ernesto e em memória de ambos.
O livro em papel está à venda na Amazon - versão
que aconselho vivamente, por questões filosóficas
e cognitivas - mas está também acessível
gratuitamente na academia.edu
O livro conta com muitas imagens e trata de um fragmento da história
de Portugal e do Brasil através dos nossos encontros.
Mas, eu tinha prometido à Isabel que comporia um concerto.
E não me esqueci.
Quando alguém pedia ao Ernesto para fazer "uma fotografia"
e lhe dava, naquele momento, uma câmera, ao invés
de fazer "uma fotografia" ele começava a disparar
sem parar até que o filme tivesse acabado. Aquela sequência
de imagens era "a fotografia", era o momento, tal como
tinha sido estabelecido pelo cubismo sintético. Assim,
a prova de contacto era uma única fotografia.
Yojimbo, que em Japonês significa "guarda-costas",
foi um dos filmes mais importantes de Akira Kurosawa. Tanto Kurosawa
como Toshiro Mifune foram meus heróis particularmente
na minha adolescência. Nasci em São Paulo que representa
a maior colónia de descendentes Japoneses em todo o mundo.
Ao longo de anos estudei a história do Japão, sua
arquitetura, música, língua, poesia, filosofia
e religiões - sem contar que sempre apreciei muito a culinária
Nipónica. Meu pai chegou a estudar Japonês quando
jovem. Assim, tornei-me um pouco Japonês na minha alma.
O Jorge Peixinho também tinha uma grande admiração
pelo Japão.
Fragmentei uma longa cena do filmo Yojimbo, tal como o Ernesto
fazia com as câmeras fotográficas. Depois, como
se eu estivesse tratando de uma prova de contacto, baralhei todas
essas imagens seguindo operações de acaso.
Esse primeiro resultado foi submetido a dois tratamentos de imagem
de forma a capturar traços do desenho da ação,
criando uma abstração. Assim, a ordem se torna
paratática, por coordenação, levando aquele
que vê a um contínuo exercício de descoberta,
associando manchas e formas, criando sempre novos conteúdos.
Trata-se de um desenho de animação.
Cada pessoa é, portanto, o quê há de mais
importante nesse trabalho.
A música é resultado do filme.
Assim, Joy Mob: I é o título de ambos os trabalhos,
um anagrama de Yojimbo que, em Inglês, significa Multidão
de Alegria: Eu - que era aproximadamente a forma pela qual tanto
o Jorge como o Ernesto olhavam para o mundo.
Era um momento em que a paz e o amor estavam constantemente presentes.
O desafio era fazer algo profundamente conectado a uma outra
coisa, mas não se degenerar, mantendo uma integridade.
Temos três camadas básicas - Yojimbo de Kurosawa,
Joy Mob: I e a música (com o mesmo título). Acredito
que tive sucesso em criar um filme e uma composição
musical que, apesar de ambos estarem intensamente conectados
entre si, mantiveram sua independência.
Tudo isso me lembra Vladimir Mayakovsky quando, muito corretamente,
dizia que as pessoas nascem para brilhar.
Emanuel Dimas de Melo
Pimenta
|
apresentação do
livro, audição da música e projeção
do filme
dia 17 de Junho, 2021 - a partir
das 18:00
Galeria Diferença
Rua São Filipe Nery, 42 c/v Lisboa - tel. 213 832 193
devido à pandemia, pede-se confirmar a presença por telefone com a Galeria
|
|