K A T A C H I
 
 música . emanuel dimas de melo pimenta
coreografia . hanako atake

Suíça - Japão
2024 . 2025


    
à Hanako Atake
e Katsuhito Atake

em memória de Takehisa Kosugi
e Katsuhiro Yamaguchi
 

Katsushika Hokusai (1760-1849), Matsuri Yatai Dragon, pintura, 1844

A cidade de São Paulo, no Brasil, é seguramente a maior comunidade japonesa fora do Japão em todo o mundo.
Nasci em São Paulo. Vivo na Suíça há muitos anos, quase a minha vida inteira. Amo o Brasil, amo a Suíça, a Itália, a França e amo o Japão - amo muito mais lugares, naturalmente.
Quando eu era menino, adorava - como todos os meus amigos - os episódios da série de televisão National Kid (Nashonaru Kiddo) produzida pela Toei Company em 1960. A série foi mais popular no Brasil do que no Japão!
Meu pai falava japonês quando jovem.
Adolescente, durante alguns poucos anos, eu ia assistir a rituais de Kendo, no bairro de Pinheiros. A cerimônia era restrita e as espadas eram de bambu. Mas, no final, por vezes, havia um grande personagem, já velho, que fazia aqueles desenhos no ar com espadas de aço, antigas, o quê era proibido. Mas, ali vivíamos a memória de um mundo.
Tudo era cercado de mistério, formalidade e grande respeito. Penso que eu era um dos únicos não japoneses lá. E por vezes me pergunto por que eles me permitiam entrar. E rapidamente eu mesmo dava a resposta: porque estávamos em liberdade e, lá, éramos todos japoneses.
Era muito estranho viver aquilo. Estranho e fascinante.
Anos mais tarde, quando vivia em Lisboa, Portugal, todos os domingos, assistíamos, com nossa filha Laura ainda criança, as lutas de Sumo. Identificávamos os lutadores. Quando Akebono Taro entrava no círculo, era uma emoção.
Quando soubemos que Akebono tinha morrido em 2024 vítima de um ataque cardíaco aos 54 anos de idade foi, num certo sentido, como se algo de nós tivesse desaparecido. E nenhum de nós jamais foi um fanático ou mesmo um regular seguidor de Sumo!
Estudei o Katsura, o Daitokuji, tankas, hai-kais, a estética Zen, a história do Japão e assim por diante.
Tanto em Nova Iorque como em São Paulo, os restaurantes japoneses se tornaram parte das nossas vidas.
Uma vez, conheci em São Paulo um homem muito velho, um sushiman. Ele atendia apenas ao almoço, num pequeno restaurante, para dez pessoas, onde ele dava verdadeiras aulas sobre o corte do peixe - sem dizer uma única palavra.
As memórias são muitas.
Nos anos 2000, um querido amigo, o arquiteto Katsuhito Atake me apresentou virtualmente a uma amiga sua, a coreógrafa Hanako Atake. Nunca cheguei a conhecer pessoalmente Hanako, pelo menos por enquanto. Mas, logo percebi que o seu trabalho é notável.
Katsuhito e eu tínhamos nos conhecido em Tsukuba, em 1994.
Assim, Hanako e eu combinamos de fazer um projeto juntos. Música e coreografia.
Essas histórias e uma reflexão filosófica sobre uma palavra japonesa - katachi - creio que de impossível tradução para o Ocidente, estão no meu texto Katachi - Mirror Labyrinth, com um link ao lado.
Nele, conto também sobre o texto-poema que criei em 1994 quando dava aulas e conferências no Instituto de Tecnologia de Tsukuba.
O projeto é extenso, implica ainda a música do teatro Nô, a arte Japonesa dos últimos 1250 anos e uma reflexão filosófica sobre o conceito de katachi.
Somos aquilo que amamos.
E não somos burocracia!
A liberdade deve ser sempre o nosso signo primeiro.

Emanuel Dimas de Melo Pimenta
Porto Ronco, Locarno, Suíça, 2024

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emanuel pimenta
hanako atake


Katachi - concerto e filme
Katachi - partitura virtual (filme)
Katachi - partitura virtual - pdf
Katachi - Labirinto de Espelhos (2024) pdf
Katachi (texto-poema 1994) pdf

Teatro Nô:
          Aoi no Ue
          Tomoe