A cidade de São
Paulo, no Brasil, é seguramente a maior comunidade japonesa
fora do Japão em todo o mundo.
Nasci em São Paulo. Vivo na Suíça há
muitos anos, quase a minha vida inteira. Amo o Brasil, amo a
Suíça, a Itália, a França e amo o
Japão - amo muito mais lugares, naturalmente.
Quando eu era menino, adorava - como todos os meus amigos - os
episódios da série de televisão National
Kid (Nashonaru Kiddo) produzida pela Toei Company em 1960. A
série foi mais popular no Brasil do que no Japão!
Meu pai falava japonês quando jovem.
Adolescente, durante alguns poucos anos, eu ia assistir a rituais
de Kendo, no bairro de Pinheiros. A cerimônia era restrita
e as espadas eram de bambu. Mas, no final, por vezes, havia um
grande personagem, já velho, que fazia aqueles desenhos
no ar com espadas de aço, antigas, o quê era proibido.
Mas, ali vivíamos a memória de um mundo.
Tudo era cercado de mistério, formalidade e grande respeito.
Penso que eu era um dos únicos não japoneses lá.
E por vezes me pergunto por que eles me permitiam entrar. E rapidamente
eu mesmo dava a resposta: porque estávamos em liberdade
e, lá, éramos todos japoneses.
Era muito estranho viver aquilo. Estranho e fascinante.
Anos mais tarde, quando vivia em Lisboa, Portugal, todos os domingos,
assistíamos, com nossa filha Laura ainda criança,
as lutas de Sumo. Identificávamos os lutadores. Quando
Akebono Taro entrava no círculo, era uma emoção.
Quando soubemos que Akebono tinha morrido em 2024 vítima
de um ataque cardíaco aos 54 anos de idade foi, num certo
sentido, como se algo de nós tivesse desaparecido. E nenhum
de nós jamais foi um fanático ou mesmo um regular
seguidor de Sumo!
Estudei o Katsura, o Daitokuji, tankas, hai-kais, a estética
Zen, a história do Japão e assim por diante.
Tanto em Nova Iorque como em São Paulo, os restaurantes
japoneses se tornaram parte das nossas vidas.
Uma vez, conheci em São Paulo um homem muito velho, um
sushiman. Ele atendia apenas ao almoço, num pequeno restaurante,
para dez pessoas, onde ele dava verdadeiras aulas sobre o corte
do peixe - sem dizer uma única palavra.
As memórias são muitas.
Nos anos 2000, um querido amigo, o arquiteto Katsuhito Atake
me apresentou virtualmente a uma amiga sua, a coreógrafa
Hanako Atake. Nunca cheguei a conhecer pessoalmente Hanako, pelo
menos por enquanto. Mas, logo percebi que o seu trabalho é
notável.
Katsuhito e eu tínhamos nos conhecido em Tsukuba, em 1994.
Assim, Hanako e eu combinamos de fazer um projeto juntos. Música
e coreografia.
Essas histórias e uma reflexão filosófica
sobre uma palavra japonesa - katachi - creio que de impossível
tradução para o Ocidente, estão no meu texto
Katachi - Mirror Labyrinth, com um link ao lado.
Nele, conto também sobre o texto-poema que criei em 1994
quando dava aulas e conferências no Instituto de Tecnologia
de Tsukuba.
O projeto é extenso, implica ainda a música do
teatro Nô, a arte Japonesa dos últimos 1250 anos
e uma reflexão filosófica sobre o conceito de katachi.
Somos aquilo que amamos.
E não somos burocracia!
A liberdade deve ser sempre o nosso signo primeiro.
Emanuel Dimas de Melo Pimenta
Porto Ronco, Locarno, Suíça, 2024
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emanuel pimenta
hanako atake
Katachi - concerto e filme
Katachi - partitura virtual (filme)
Katachi - partitura virtual - pdf
Katachi - Labirinto de Espelhos (2024) pdf
Katachi (texto-poema 1994) pdf
Teatro Nô:
Aoi no Ue
Tomoe
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