Certamente, o mais exuberante exemplo dessa nova realidade de metamorfose - transnacional, transterritorial e pós-histórica - é representado pela cidade de São Paulo. Certamente, a maior cidade do mundo na passagem do século - mais de vinte milhões de habitantes. Estimam-se existirem mais de quatro milhões de adolescentes miseráveis, sem habitação, espalhados pelas ruas e pontes da cidade. Seu PIB será maior que o da Holanda. Por suas ruas, vários dos melhores restaurantes do mundo. Um excepcional campus universitário e uma intensa vida cultural. Imigrantes de todo o mundo, pacificamente - italianos, alemães, portugueses, japoneses, judeus, gregos, espanhóis, russos, coreanos, franceses, húngaros e árabes, entre outros - uma verdadeira Babel cultural, falada em um único idioma. A economia cresce a uma razão de 4 a 6% ao ano, mas nos chamados "cortiços" um lavabo pode ser utilizado por mais de cinquenta pessoas. Somente cerca de 10% da cidade possui infraestrutura sanitária. O metropolitano serve apenas cerca de 17% da população. São Paulo - uma das cidades mais violentas do mundo. A riqueza e a pobreza extremas, as máximas cultura e ignorância, o sentido e o absoluto não sentido da ética, compartilhando o mesmo espaço. São Paulo ultrapassou em muito o sentido de urbis, atingindo uma outra realidade, onde tudo aparece sob o signo da turbulência e da permanente descoberta. Durante mais de vinte anos, minha principal preocupação foi o ser humano - o habitante dessa megacidade. O humano transformado em multidão.

Emanuel Dimas De Melo Pimenta

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